sexta-feira, 22 de julho de 2011

O CARRÊRO DE ZÉ DA LUZ































Meu patrão, eu fui carrêro.
Eu carriei muito tempo
Nas istrada do sertão.
Ainda vivo iscutando
Aquéla musga sodósa,
Do meu carro véio, cantando
Pela boca dos cocão!
Meu carro foi istimádo.
Foi cunhecído e invejado,
Praquê dizer qui num foi?
Entonce, as junta de bôi.
O “Mimoso”, o “Pintadinho”,
O “Bargado”, o “Bêja-flô”.
Êsse boióte afamádo
Qui eu recebí de presente
Do difunto meu avô?
Eu nem gosto de alembrá.
Aquilo que a gente tem
Qui istima e qui qué bem,
Quando perde, se alembrando
Tem vontade de chorá!
Agora vêja o sinhô:
Êsses bôi mi cunhicía.
Tudo quanto eu mandásse
Fazê , êsses bôi fazía.
Munta gente inté dizía
Qui eu tinha “pauta” cum o cão.
Mas porém, não tinha não.
Sabe o qui éra, patrão?
Éra um “jeito” ispiciá
Qui eu tinha prôs animá,
Qui mi dáva o ganha-pão.
Éra o cumê, a ração.
Dispôis qui vinha dos mato
Arrastando as muedêra,
Ía catá carrapato
E curá os arranão,
Prá num virá im bichêra.
Os boi qui mi cunhicía
Tudo isso agradicía!
Hoje tô véio, cansádo,
Já puxando pêla idade,
Vivendo do meu passádo
E ruminando a sodade!
“bargado” morreu de véio.
“bêja-flô” tombém morreu,
Pruvía de uma dentada
De uma cobra cascavé.
O “Mimoso” e o “Pintadimho”
Ofiricí de presente
Ao fío do coroné.
Agora o carro, patrão,
Prá eu num vê desonerádo
Púr esses carro, intiádo
Da tá civilização,
Ofiricí numa noite,
Numa noite brasilêra,
Queimado numa fugêra
Im lovô a São João!

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