terça-feira, 16 de agosto de 2011

CÉU DOS PASSARINHOS

















Meu caro Louro:
me lembro bem do dia em que
você chegou lá em casa,
trazido por Seu Pedro Grande,
que o encontrou no chão, caído do ninho,
longe da mãe, com fome e frio.
Ele,
que sabia cuidar da vida,
o apanhou com mãos de afeto e ternura.
Pelado, tremendo de frio,
cabeça grande, olhos enormes,
foi assim que você chegou.
Com os cuidados e carinho de Mamãe
que o acolheu como mais um de seus filhos,
sobreviveu...
Anda não comia sozinho,
mas um dia ia comer,
não andava, mas um dia ia andar,
não voava, mas um dia ia voar,
não cantava, mas um dia ia cantar,
não falava, mas um dia ia falar:
Vozinha, Fátima, Paulo, Fábio, André, Tadeu
e tantos outros dizeres
próprios de quem chegou
e, aos poucos,
foi se integrando ao ambiente
e interagindo com todos a seu redor.
Um dia,
Fátima partiu
e você continuou chamando o nome dela.
Comovia-nos ouvir sua voz,
chamando-a muitas vezes,
sem saber que ela tinha partido nas asas do vento
para morar numa estrela desconhecida e muito longe.
Com o passar do tempo,

você parou de chamar o nome dela.
Fez bem. Doía!
Depois,
Vovó saiu do Mugiqui
e você...
Você era mesmo do mato
e não gostava de cidade, ela sabia disso.
Gostava mesmo era do sol,
do clarão da lua-cheia,
banhando de prata o mundo,
gostava das madrugadas silenciosas,
do latido dos cachorros,
do mugido das vacas no curral,
do canto dos galos e das galinhas no terreiro,
da meninada que passava,
tirando onda com você.
Foi com Zelito, Fátima, Luzinha, Rômulo, Célia
e todas as crianças lá de casa,
da Casa do Mugiqui,
que você aprendeu as primeiras letras
e aprendeu os encantos
da comunicação dos humanos.
Paulo,
o negro-tição,
que bulia com você,
também foi embora e nunca mais voltou.
A vida é assim mesmo:
cheia de separações,
repleta de despedidas e de saudades.
Dar adeus dói, machuca!
Mas o que fazer?
Cada humano e até avoante, feito você,
nasce com um caminho a percorrer.
Gisélia o acolheu carinhosamente na Boa Vista.
Era mais um filho que chegava.
De vez em quando,
Vozinha ia visitá-lo,

conversava com você,
dizia palavras de carinho.
Aquela ternura de sempre!
André,
igual a um cão de guarda,
ficou cuidando de você,
como um filho que não o teve.
Só ele desfrutava o direito de tocar-lhe o corpo.
Vocês dois tinham quereres iguais.
Pareciam dois irmãos.
Sim!
Um dia, Vozinha também partiu
e aí sua orfandade foi total!
Mas Deus também dá força aos passarinhos
e você soube superar todas as ausências.
Cada um que ia visitá-lo,
você fazia aquela festa,
aquela algazarra!
Falava, cantava,
ficava todo arrepiado de emoção.
Louros também têm emoção!
Sabiam?
Outro dia,
Quando eu menos esperava,
para tristeza minha,
de Tadeu e de todos os que o amavam,
Marcel escreveu:
O Louro morreu!...
Fiquei mudo.
Aí, só me restou uma coisa:
pedir a Deus que o guardasse,
bem guardado no
Céu dos Passarinhos!

Pedro Nunes Filho
Recife, 14 de julho de 2011.

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